Continuando com a nossa série sobre Swordplay e Crianças (ou Swordplay com Crianças!), vamos ver agora quais são alguns cuidados para ter em mente quando montamos jogos de combate envolvendo os pequenos. E se você ainda não leu a parte 1, é só clicar neste link 🙂
1.) Segurança, sempre a segurança!
É o primeiro item do cardápio, e desta vez em duas variedades. Assim como o swordplay preza por ser um combate com espadas de espuma no qual não é necessário usar a força física para marcar pontos, precisamos tomar alguns cuidados quando existem crianças no campo de batalha.
Se o grupo todo tiver mais ou menos a mesma faixa etária: Esta é a ocasião mais fácil de administrar. Os coordenadores, mais velhos, observam para ver se nenhuma das crianças está acertando as outras com mais força do que o necessário ou agindo de maneira indesejada (com empurrões, tapas e similares).
Se o grupo for misto, com crianças, adolescentes e adultos: Neste caso, especialmente pela diferença de tamanho e força, é preciso tomar um cuidado redobrado quando um dos guerreiros mais velhos estiver enfrentando uma criança.
Isso é especialmente importante naqueles “golpes por reflexo”; já tivemos ocasiões (poucas, mas ainda assim que servem de alerta) em que, num movimento motivado por reflexo, um combatente de 20 anos e mais de 100 Kg acertou a espada na cabeça de um garoto de 7 que vinha para um backstab, quase mandando o pequeno a nocaute. Claro, o golpe foi involuntário, mas mesmo assim tivemos que parar o treino para dar assistência à criança caída.
Outro exemplo acidental aconteceu por conta de uma esquiva; um combatente adulto, para se esquivar de um golpe, saltou para trás e acabou acertando em cheio o menino que estava passando por ali. Resultado: treino parado, criança chorando e uma conversa geral com o grupo para terem mais cuidado em treinos futuros. E segue o combate 🙂
2.) Regras: Mantenha tudo bem simples
Esta aqui é para evitar dores de cabeça para os coordenadores 🙂 As crianças naturalmente não prestam atenção em uma mesma coisa por muito tempo — especialmente se estão com espadas de espuma na mão. Podemos fazer uma analogia com um jogo de futebol entre crianças: Todo mundo sabe que o negócio é mandar a bola pro gol e que não se pode derrubar o amigo, mas tente explicar ou mandar que usem uma regra complexa como o impedimento, por exemplo! ¯\_(ツ)_/¯
Vale lembrar que o Swordplay é um esporte que conta com uma quantidade razoável de regras. Na Gladius Swordplay elas estão divididas em 3 grandes grupos: As regras de conduta, as regras de combate e finalmente as regras específicas para cada jogo que está sendo disputado. Não adianta querer uma criança memorize todos esses conjuntos e comece a aplicá-los imediatamente; por isso, simplifique tudo que puder.
Assim, recomendamos que os jogos de combate utilizados com a criançada sejam simples e diretos. Nada de regras com muitas minúcias e muitas exceções. Temos, inclusive, uma métrica informal entre os designers de jogos da Gladius Swordplay: Se for necessário mais de um minuto para explicar as regras de uma modalidade, isso indica que o jogo em questão é complexo.
Assim, para uma atividade só com crianças, recomendamos:
- Jogos simples e com objetivos claros. Exemplos: Arena 1 x 1 ou Caça-Bandeira. Se houver muita gente, o jogo da Hidra é uma alternativa melhor do que a Batalha Campal, pois há menos combatentes em campo ao mesmo tempo.
- Enquanto as regras estiverem sendo explicadas, o ideal é que todos estejam sentados. E peça também que coloquem as espadas no chão, sem mexer nelas. Isso vai ajudar a concentrar a atenção da molecada em quem estiver explicando a atividade.
3.) Equipamentos: Continue mantendo tudo bem simples!
Não é preciso inventar muito aqui. Crianças devem usar somente clavas de combate para participar dos combates. A clava, por ter o formato cilíndrico, sempre vai acertar o adversário com a mesma quantidade de espuma, independentemente de como for manipulada.
Enfatizando: mantenha tudo bem simples! Armas longas como espadas montantes, lanças, manguais e machados requerem um nível de coordenação motora que a criança ainda não tem. Na melhor das hipóteses, não conseguir combater adequadamente com um equipamento desajeitado resulta num sentimento de frustração (e provavelmente um guerreiro emburrado no campo de batalha, fazendo birra); na pior das hipóteses, alguém vai sair machucado.
Se os pais estiverem presentes e treinando junto, e dependendo da idade e maturidade da criança, pode ser considerada a possibilidade de entregar uma espada curta ou escudos pequenos, preferencialmente feitos totalmente em EVA e sem uma base rígida.
4.) Apagando incêndios: birra, xingamentos, explosões de fúria, e ataques de choro
Quem foi que disse que é fácil lidar com crianças, hein? 😉
O negócio é o seguinte: se resolver lidar com crianças, muito provavelmente você vai ter que enfrentar as reações descritas no título. Vamos ver o que pode causá-las e (tentar) manter a cabeça fresca:
Acidentes: Tombos, encontrões e golpes mal-dados, tanto aqueles que acertam nas áreas mais sensíveis quanto aqueles que foram dados com uma força desmedida. A reação mais comum é o choro, claro; entretanto, se o acidente foi causado por outra criança, pode ocorrer uma reação mais explosiva.
Frustração: Quando uma criança nunca consegue cumprir um objetivo do jogo (ex: capturar a bandeira, eliminar os jogadores adversários, chegar na área de pontuação, etc). A frustração que vai se acumulando muitas vezes acaba se transformando em raiva; por isso, é importante cuidar para que as crianças maiores (ou, em grupos mistos, mesmo os adolescentes e adultos) não impeçam a criançada de conseguir participar de maneira efetiva das dinâmicas. Vale lembrar também do que falamos na parte 1 deste artigo sobre ensinar a criançada a curtir as vitórias e aceitar as derrotas.
Má conduta e indisciplina: Um dos combatentes age intencionalmente para machucar outro; ou quando uma das crianças, por ser maior que as outras ou ter uma personalidade mais dominante, resolve virar o “dono” do pedaço. Exemplos: bater com força exagerada, furar fila (em modalidades que preveem esse tipo de mecânica), arrancar o equipamento da mão do outro… pois é, já passamos por tudo isso.
Nunca é demais lembrar que, mesmo utilizando equipamentos revestidos com espuma, o Swordplay é um esporte de combate. Se os ânimos estiverem muito exaltados, ou se o nível de competitividade/agressividade da garotada estiver alto demais, o mais conveniente é fazer uma pausa para todo mundo beber água, ir ao banheiro, sentar e descansar um pouco antes de retomar as atividades.
5.) Disciplina: Seja firme, sem perder a classe.
Ser firme, no caso de haver crianças no grupo, basicamente se resume a não deixar que as regras sejam burladas. E isso vale para os três conjuntos de regras citados no nível anterior: as regras de combate, as regras do jogo que está sendo disputado, mas principalmente as regras de conduta.
Se for necessário reforçar alguma regra ou esclarecer algum detalhe, convém interromper a atividade, reunir todos os combatentes e, especialmente no caso das crianças, pedir que coloquem os equipamentos no chão enquanto a explicação é dada.
E se chegar ao ponto de precisar dar uma bronca em alguém… Bem, isso acontece! Mas não dê essa bronca na frente do restante do grupo; constranger um combatente, seja criança ou adulto, nunca traz bons resultados e pode até fazer com que a pessoa desista de praticar o Swordplay.
Mantenha a voz num nível de conversa, sem gritos, ameaças e muito menos castigos físicos (como fazer flexões ou similares). Explique o que a criança fez de errado e peça que ela se comprometa a não agir mais dessa maneira para poder voltar ao jogo. E, se puder ter essa conversa com o pai ou a mãe da criança junto, é ainda melhor: você vai ter a família como aliada na correção do comportamento indesejável — mais um motivo pelo qual pedimos que os menores de 14 anos estejam sempre acompanhados pelos pais durante os nossos treinos e eventos 🙂
A parte 3 dessa série já está chegando, e nela vamos falar de um caso específico da história da Gladius Swordplay. Até lá!